Crise na Venezuela começou com protesto de estudantes
Leandra Felipe - Agência Brasil22.02.2014 - 11h06 | Atualizado em 22.02.2014 -
11h21
Com novas manifestações
marcadas para este sábado (22) na Venezuela, os protestos no país chegam a 22
dias. As manifestações começaram no dia 4 deste mês com estudantes protestando
contra a insegurança nas universidades, após uma jovem ter sofrido tentativa de
estupro e roubo no dia anterior na Universidade de Los Andes, San Cristóban, em
Táchira.
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Dois dias depois,
centenas de estudantes se mobilizaram e um grupo atacou o governador do estado,
José Vielma Cristóbal – cinco jovens foram detidos. Depois disso, começou os
protestos no estado vizinho, Mérida. No fim de semana (8 e 9), houve caminhadas
em mais estado, culminando com a grande marcha, realizada no último dia 12, em
que três pessoas morreram.
Até então, os movimentos
não registravam atos de vandalismo em grande escala. No último dia 12, que
houve confrontos entre simpatizantes do presidente Nicolás Maduro e opositores.
Também foi o marco da ação de motoqueiros armados que dispararam contra os
manifestantes e do uso de barricadas e bloqueios nas ruas, além do uso de
coquetéis-molotov por alguns manifestantes.
No decorrer dos dias, os
protestos ganharam novos adeptos e as reivindicações também se ampliaram. Além
da criminalidade, a população passou a protestar contra a alta da inflação, a
escassez de bens de consumo básico, o mercado negro do dólar e os apagões
energéticos. A detenção de jovens estudantes – a maioria já liberada – também
aumentou a insatisfação e motivou novos protestos.
O governo de Nicolás
Maduro atribuiu a culpa dos atos violentos e do vandalismo ao dirigente do
partido Vontade Popular, Leopoldo López, que cumpre pena provisória de 45 dias,
por ter sido considerado mentor intelectual da ação de grupos radicais nos
protestos. Na terça-feira (18), dia em que López foi preso, uma manifestação
convocada por ele levou milhares de venezuelanos às ruas, inicialmente em
marchas pacíficas, mas, no fim do dia, houve novos atos de vandalismo,
agressões a policiais e mais mortes. Ontem (21) foi confirmada a oitava morte.
A oposição e o governo
falam em diálogo e paz, mas adotam discursos de confronto e acusações
recíprocas. A insatisfação popular era crescente desde o ano passado e a
polarização dava sinais de crescimento desde abril, quando Maduro foi eleito
presidente, com pequena margem de diferença (1,5%) sobre o adversário Henrique
Capriles, governador de Miranda.
O governo acusa a
oposição de tentar um “golpe lento”, valendo-se de grupos infiltrados nas
manifestações para provocar o terror e fazer com que a opinião pública nacional
e internacional voltem-se contra o governo e que, por pressão, ele seja
derrotado, ou, o país sofra interferência externa. O presidente Maduro diz que
os Estados Unidos patrocinam e apóiam a direita na tentativa de golpe.
Até o momento, os
organismos multilaterais regionais – Comunidade dos Países Latino-Americanos e
Caribenhos (Celac), União de Nações Sul-Americanas (Una sul) e o Mercado Comum
do Sul (MERCOSUL) – manifestaram-se a favor do governo, pedindo respeito à
democracia. Esses organismos pediram, porém, o diálogo e a conciliação entre as
partes.
A oposição nega que
tenha um plano conspiratório, mas pressiona o governo incentivando e
participando do movimento da sociedade civil. Da prisão, Leopoldo López envia
recados por intermédio da esposa, pedindo que o "movimento continue".
O cenário é de
instabilidade e não é possível dizer quando o clima se tornará mais favorável.
Um fator importante é que o governo consiga vencer a crise econômica. Com
maioria na Assembléia Legislativa, Maduro tem poderes especiais para governar
por decreto e adotar medidas extraordinárias para resolver o problema da
inflação e da especulação financeira.
Desde o ano passado,
Maduro vem adotando uma série de medidas como maior controle cambial, fixação
de preços e de lucros em até 30%, por meio da aplicação da Lei de Preços
Justos, e buscando apoio da Celac e do MERCOSUL para garantir o abastecimento
de produtos essenciais.
Mesmo assim, a escassez continua em diversas regiões. As missões
alimentícias – mercados estatais que vendem produtos subsidiados – têm
dificuldade de suprir a demanda. E, nas redes privadas, a ausência de produtos
básicos, como leite, carnes, arroz, farinha e papel higiênico, também são
evidentes.
O governo Maduro atribui essa situação à
direita, no que ele chama de “guerra econômica”, e até o momento, apesar dos
investimentos e tentativas de solução, a crise se agrava. A oposição devolve as
acusações e fala em corrupção e ineficiência da gestão.
Politicamente, o desafio é diminuir a polarização e buscar o consenso,
ainda que a fragmentação social e política tenham sido alimentadas nos últimos
anos, entre chavistas, como o presidente Maduro, e não chavistas.
Editor: Nádia Franco
Crise na Venezuela divide
América Latina
Enquanto aliados regionais
denunciam tentativa de golpe e chamam protestos de antidemocráticos, países
como Colômbia e Chile pedem respeito à liberdade de expressão. Maduro rejeita
"lições de democracia" dos vizinhos.
A mais grave
crise política enfrentada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que
atingiu seu ápice na
terça-feira (18/02), levou a reações mistas na América Latina. De um lado,
aliados como Bolívia, Equador e Argentina correram para demonstrar apoio ao
governo chavista. De outro, países como Colômbia, Peru e Chile pediram calma e
respeito aos direitos humanos e de manifestação.
A convulsão popular
em Caracas atingiu seu momento mais crítico na tarde de terça-feira, quando
Leopoldo López, hoje principal nome da oposição, decidiu se entregar à polícia
numa marcha que reuniu dezenas de milhares de pessoas. Ele recebeu uma ordem de
detenção por, segundo o governo, ser responsável pela violência ocorrida
durante protestos na capital.
Da Argentina,
Maduro recebeu uma ligação do chanceler Héctor Timerman, que lhe ratificou o
"apoio absoluto às instituições venezuelanas".
O Uruguai
condenou o que chamou de tentativas de derrubar um governo legítimo.
O Equador
qualificou as manifestações da oposição como “tentativas antidemocráticas”.
Cuba e Bolívia, em tom parecido, acusaram os
Estados Unidos de arquitetarem um golpe na Venezuela."Há uma tentativa de
golpe de Estado contra as obras de Chávez", disse o presidente boliviano,
Evo Morales, na terça-feira. "Temos obrigação de repudiar essa tentativa
de golpe que vem de fora, do império."
Na quarta-feira,
Maduro anunciou a expulsão de três funcionários da embaixada americana, que
segundo ele estariam recrutando estudantes para participar de atos de
violência. Washington negou a acusação e disse que o uso das Forças Armadas
para reprimir protestos é “alarmante” e pode contribuir para o agravamento da
situação.
Atrito com Colômbia
Já o
presidente colombiano, Juan Manuel Santos, pediu que os canais de comunicação
entre as diferentes forças políticas da Venezuela sejam restabelecidos para
garantir a estabilidade do país. A declaração irritou Maduro.
"O
presidente Santos quer me dar lições de democracia, quando o que estou fazendo
é defender a Venezuela", afirmou o chavista. "Os problemas dos
venezuelanos são resolvidos pelos venezuelanos!"
Discurso
similar ao de Santos foi adotado por Peru e Chile. O presidente chileno,
Sebastián Piñera, fez um apelo para que os direitos humanos fossem respeitados
durante os protestos contra Maduro, iniciados há duas semanas em meio à
insatisfação popular com a violência crescente, a economia frágil e a pressão
do governo sobre a imprensa.
“A defesa dos direitos
humanos em todo o tempo, em todo o lugar e em toda circunstância são valores
que hoje são universais e que não reconhecem fronteiras”, disse Piñera.
Na terça-feira,
o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, disse que o Brasil
espera "uma convergência dentro de um respeito à institucionalidade e à
democracia" na Venezuela e demonstrou preocupação com a situação no país
vizinho.
No fim de
semana, em comunicado conjunto, os países-membros do MERCOSUL repudiaram a
violência na Venezuela e condenaram o que consideram ameaças de quebra da ordem
democrática feitas por oposicionistas. A organização de direitos humanos Human
Rights Watch também se manifestou e criticou severamente a detenção de López.
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