domingo, 9 de março de 2014

Crise na Venezuela começou com protesto de estudantes
Leandra Felipe - Agência Brasil22.02.2014 - 11h06 | Atualizado em 22.02.2014 - 11h21

         Com novas manifestações marcadas para este sábado (22) na Venezuela, os protestos no país chegam a 22 dias. As manifestações começaram no dia 4 deste mês com estudantes protestando contra a insegurança nas universidades, após uma jovem ter sofrido tentativa de estupro e roubo no dia anterior na Universidade de Los Andes, San Cristóban, em Táchira.
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          Dois dias depois, centenas de estudantes se mobilizaram e um grupo atacou o governador do estado, José Vielma Cristóbal – cinco jovens foram detidos. Depois disso, começou os protestos no estado vizinho, Mérida. No fim de semana (8 e 9), houve caminhadas em mais estado, culminando com a grande marcha, realizada no último dia 12, em que três pessoas morreram.
         Até então, os movimentos não registravam atos de vandalismo em grande escala. No último dia 12, que houve confrontos entre simpatizantes do presidente Nicolás Maduro e opositores. Também foi o marco da ação de motoqueiros armados que dispararam contra os manifestantes e do uso de barricadas e bloqueios nas ruas, além do uso de coquetéis-molotov por alguns manifestantes.
         No decorrer dos dias, os protestos ganharam novos adeptos e as reivindicações também se ampliaram. Além da criminalidade, a população passou a protestar contra a alta da inflação, a escassez de bens de consumo básico, o mercado negro do dólar e os apagões energéticos. A detenção de jovens estudantes – a maioria já liberada – também aumentou a insatisfação e motivou novos protestos.
         O governo de Nicolás Maduro atribuiu a culpa dos atos violentos e do vandalismo ao dirigente do partido Vontade Popular, Leopoldo López, que cumpre pena provisória de 45 dias, por ter sido considerado mentor intelectual da ação de grupos radicais nos protestos. Na terça-feira (18), dia em que López foi preso, uma manifestação convocada por ele levou milhares de venezuelanos às ruas, inicialmente em marchas pacíficas, mas, no fim do dia, houve novos atos de vandalismo, agressões a policiais e mais mortes. Ontem (21) foi confirmada a oitava morte.
         A oposição e o governo falam em diálogo e paz, mas adotam discursos de confronto e acusações recíprocas. A insatisfação popular era crescente desde o ano passado e a polarização dava sinais de crescimento desde abril, quando Maduro foi eleito presidente, com pequena margem de diferença (1,5%) sobre o adversário Henrique Capriles, governador de Miranda.
         O governo acusa a oposição de tentar um “golpe lento”, valendo-se de grupos infiltrados nas manifestações para provocar o terror e fazer com que a opinião pública nacional e internacional voltem-se contra o governo e que, por pressão, ele seja derrotado, ou, o país sofra interferência externa. O presidente Maduro diz que os Estados Unidos patrocinam e apóiam a direita na tentativa de golpe.
         Até o momento, os organismos multilaterais regionais – Comunidade dos Países Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), União de Nações Sul-Americanas (Una sul) e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) – manifestaram-se a favor do governo, pedindo respeito à democracia. Esses organismos pediram, porém, o diálogo e a conciliação entre as partes.
          A oposição nega que tenha um plano conspiratório, mas pressiona o governo incentivando e participando do movimento da sociedade civil. Da prisão, Leopoldo López envia recados por intermédio da esposa, pedindo que o "movimento continue".
         O cenário é de instabilidade e não é possível dizer quando o clima se tornará mais favorável. Um fator importante é que o governo consiga vencer a crise econômica. Com maioria na Assembléia Legislativa, Maduro tem poderes especiais para governar por decreto e adotar medidas extraordinárias para resolver o problema da inflação e da especulação financeira.
           Desde o ano passado, Maduro vem adotando uma série de medidas como maior controle cambial, fixação de preços e de lucros em até 30%,  por meio da aplicação da Lei de Preços Justos, e buscando apoio da Celac e do MERCOSUL para garantir o abastecimento de produtos essenciais.
Mesmo assim, a escassez continua em diversas regiões. As missões alimentícias – mercados estatais que vendem produtos subsidiados – têm dificuldade de suprir a demanda. E, nas redes privadas, a ausência de produtos básicos, como leite, carnes, arroz, farinha e papel higiênico, também são evidentes.
            O governo Maduro atribui essa situação à direita, no que ele chama de “guerra econômica”, e até o momento, apesar dos investimentos e tentativas de solução, a crise se agrava. A oposição devolve as acusações e fala em corrupção e ineficiência da gestão.
Politicamente, o desafio é diminuir a polarização e buscar o consenso, ainda que a fragmentação social e política tenham sido alimentadas nos últimos anos, entre chavistas, como o presidente Maduro, e não chavistas.
Editor: Nádia Franco




Crise na Venezuela divide América Latina

Enquanto aliados regionais denunciam tentativa de golpe e chamam protestos de antidemocráticos, países como Colômbia e Chile pedem respeito à liberdade de expressão. Maduro rejeita "lições de democracia" dos vizinhos.
             A mais grave crise política enfrentada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que atingiu seu  ápice na terça-feira (18/02), levou a reações mistas na América Latina. De um lado, aliados como Bolívia, Equador e Argentina correram para demonstrar apoio ao governo chavista. De outro, países como Colômbia, Peru e Chile pediram calma e respeito aos direitos humanos e de manifestação.
           A convulsão popular em Caracas atingiu seu momento mais crítico na tarde de terça-feira, quando Leopoldo López, hoje principal nome da oposição, decidiu se entregar à polícia numa marcha que reuniu dezenas de milhares de pessoas. Ele recebeu uma ordem de detenção por, segundo o governo, ser responsável pela violência ocorrida durante protestos na capital.
           Da Argentina, Maduro recebeu uma ligação do chanceler Héctor Timerman, que lhe ratificou o "apoio absoluto às instituições venezuelanas".
          O Uruguai condenou o que chamou de tentativas de derrubar um governo legítimo.
          O Equador qualificou as manifestações da oposição como “tentativas antidemocráticas”.
          Cuba e Bolívia, em tom parecido, acusaram os Estados Unidos de arquitetarem um golpe na Venezuela."Há uma tentativa de golpe de Estado contra as obras de Chávez", disse o presidente boliviano, Evo Morales, na terça-feira. "Temos obrigação de repudiar essa tentativa de golpe que vem de fora, do império."
          Na quarta-feira, Maduro anunciou a expulsão de três funcionários da embaixada americana, que segundo ele estariam recrutando estudantes para participar de atos de violência. Washington negou a acusação e disse que o uso das Forças Armadas para reprimir protestos é “alarmante” e pode contribuir para o agravamento da situação.
                                                Atrito com Colômbia
           Já o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, pediu que os canais de comunicação entre as diferentes forças políticas da Venezuela sejam restabelecidos para garantir a estabilidade do país. A declaração irritou Maduro.
          "O presidente Santos quer me dar lições de democracia, quando o que estou fazendo é defender a Venezuela", afirmou o chavista. "Os problemas dos venezuelanos são resolvidos pelos venezuelanos!"
            Discurso similar ao de Santos foi adotado por Peru e Chile. O presidente chileno, Sebastián Piñera, fez um apelo para que os direitos humanos fossem respeitados durante os protestos contra Maduro, iniciados há duas semanas em meio à insatisfação popular com a violência crescente, a economia frágil e a pressão do governo sobre a imprensa.
 “A defesa dos direitos humanos em todo o tempo, em todo o lugar e em toda circunstância são valores que hoje são universais e que não reconhecem fronteiras”, disse Piñera.
           Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, disse que o Brasil espera "uma convergência dentro de um respeito à institucionalidade e à democracia" na Venezuela e demonstrou preocupação com a situação no país vizinho.
          No fim de semana, em comunicado conjunto, os países-membros do MERCOSUL repudiaram a violência na Venezuela e condenaram o que consideram ameaças de quebra da ordem democrática feitas por oposicionistas. A organização de direitos humanos Human Rights Watch também se manifestou e criticou severamente a detenção de López.
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  • Edição Rafael Plaisant











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