SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5
CHOQUE
DE CIVILIZAÇÕES?
Significado da expressão “choque de
civilizações”.
A ideia de “choque de civilizações” foi
frequentemente retomada para explicar os conflitos entre Ocidente e Oriente.
Ainda em 1964, Bernard Lewis, um professor universitário britânico pouco
conhecido, lançou a expressão que ficaria famosa. Se, por um lado, esta passou
despercebida durante a década de 1960, por outro, foi relançada por ele 25 anos
depois na forma de um artigo, The roots of muslim rage (“As raízes da cólera
muçulmana”).
Regionalização
do mundo, com base na teoria do “choque de civilizações” de Samuel P.
Huntington.
Em
1993, Samuel P. Huntington, economista estadunidense, retomou a fórmula do
“choque de civilizações” em um célebre artigo que escreveu para a revista
Foreign Affairs. O texto fez tanto sucesso e despertou tanta polêmica que levou
o seu autor a ampliá-lo e, em 1996, Huntington publicou o livro O
choque de civilizações e a
recomposição da ordem mundial, publicado no Brasil no ano seguinte (tradução de
M. H. C. Côrtes. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. 455 p.).
O
contexto geopolítico em que surgiu e seu significado: o postulado de Samuel P.
Huntington na obra indicada constitui um esforço de compreensão do mundo e do
novo quadro das relações internacionais emergente da implosão soviética, depois
que as tensões políticas da velha ordem bipolar deixaram de subordinar um ou
outro bloco ideológico.
O autor propôs o
paradigma civilizacional como modelo, assumindo que é as várias identidades
culturais do mundo que modelam as coesões, as desintegrações e os conflitos em
uma Nova Ordem Mundial pós-guerra fria, em que, inclusive, Estados se aliam, ou
não, em função dos sentimentos de pertencimento civilizacional.
Exemplos de fatos que são considerados como resultados de
“choque de civilizações”
Ø “Os
aviões que destruíram as torres gêmeas do World Trade Center, em 11 de setembro
de 2001, e a marcha das tropas estadunidenses sobre Bagdá refletem tragicamente
esse estranhamento e introduzem, na política mundial, o espectro do ‘choque de
civilizações’”.
O significado do sentimento de estranhamento
nesse caso é o de aversão a alguém ou a algo que não se conhece, ou seja, os atentados e a invasão ao
Iraque induzem à ideia de que o Ocidente e o Oriente apresentam diferenças
culturais intransponíveis, o que não é de todo verdadeiro. Por isso, os autores
enfatizam a ideia de espectro, palavra que tem o significado de fantasma ou
ilusão do “choque de civilizações”.
Ø
Os protestos ocorridos
na França em 2005, quando jovens imigrantes depredaram espaços públicos como
forma de protesto às condições sociais degradantes nas periferias de Paris,
foram em princípio relacionados diretamente como expressão do “choque de
civilizações”, pois grande parte das populações que habitam as periferias de
Paris é do Oriente. Porém, os protestos tiveram um significado político,
questionador da exclusão social e do neoliberalismo intolerante.
Será
que podemos considerar a obra (livro) comentada como sendo bastante atual?
Promova uma reflexão. Lembre-se que, desde o fim da Guerra Fria, a maioria das
guerras ocorre entre povos de civilizações diferentes (pense-se, por exemplo,
no conflito Israel-Palestina, as Guerras do Golfo, na desintegração da antiga
República Socialista Federativa da Iugoslávia, a instabilidade na Caxemira, na luta
pela independência na Chechênia ou mesmo na atual presença
anglo-americana no Iraque).
Com base num trecho que se
encontra na página 317 da obra de Edward Said, considere que este autor
interpretou a teoria de Huntington como uma versão renovada da tese da Guerra
Fria, pois entende que os conflitos do mundo atual e do futuro continuarão a
ser essencialmente ideológicos, mais do que econômicos e sociais.
1.
Leia
o texto a seguir
O crítico literário e
ativista da causa palestina Edward Said critica a tese de “choque de civilizações”
defendida por Huntington. Para ele, essa ideia deve ser considerada uma
política de estado que visa reestruturar a estratégia ocidental tendo em vista
afirmar sua autoridade sobre o Oriente, envolvendo interesses de dominação.
a)
Considerando as medidas tomadas por George W. Bush após o 11 de setembro de
2001, quais interesses os EUA teriam ao incentivar a ideia de “choque de
civilizações”?
Entre
inúmeras possibilidades, podemos citar o interesse de convencer a população
estadunidense da necessidade da invasão aos países do Oriente Médio que,
segundo o governo dos Estados Unidos, dão suporte ao terrorismo; interesses com
relação ao petróleo, fonte de energia ainda vital para a economia dos Estados
Unidos; e desejo de fortalecimento da política de combate ao “eixo do mal” que,
de acordo com a doutrina Bush, investe na tecnologia de fabricação de bombas
atômicas.
b)
Considerando as discussões realizadas durante a aula sobre a ideia de “choque
de civilizações”, quais os interesses que os países do Ocidente teriam no
Oriente Médio?
Edward
Said enfatiza o princípio da dominação global, considerando os interesses
hegemônicos e econômicos atrelados como, por exemplo, no caso das reservas de
petróleo.
2. Leia o texto a seguir
O sociólogo
anglo-americano Michael Mann, professor da Universidade da Califórnia, em seu livro O Império da
incoerência, afirma que o mundo deveria saber que o governo de George W. Bush
adota o novo imperialismo. Para ele, as políticas estadunidenses quanto a Kioto,
minas terrestres, Guerras nas Estrelas, Iraque e Irã não são ocasionais e
isoladas. Todas elas fazem parte de uma estratégia desencadeada pela nova
direita estadunidense, desde os anos 1970, para que se construa o Império
Americano Global, vislumbrado primeiramente como teoria e, depois de 11 de
setembro, e durante todo o governo de Bush, como realidade.
a)
Qual a intenção do autor ao afirmar que o mundo deveria saber que o governo
de
George W. Bush adotou um novo imperialismo?
O sociólogo Michael Mann argumenta que o
Partido Republicano, do ex-presidente George W. Bush, iniciou em 1970 uma estratégia
política alicerçada na nova direita dos Estados Unidos, por meio da qual se
cristalizou a ideia de um império estadunidense em escala mundial. Assim, a
posição estadunidense com relação a temas de alcance mundial não é ocasional e
isolada, mas parte de uma política de poder unilateral, posição solitária que
desconsidera acordos de caráter multilateral.
b) Considerando os argumentos defendidos por
Michael Mann, ele seria favorável
ou desfavorável à tese do “choque de civilizações”
de Huntington? Justifique
a sua resposta.
Os argumentos apresentados por Michael
Mann são contrários à tese do “choque de civilizações”. Para Mann, o governo de
George W. Bush, representante da nova direita estadunidense, comportou-se de
forma isolacionista, o que incita reações em diversas partes do mundo
c) Considerando o atual momento da
política dos Estados Unidos, é possível afirmar que esse país ainda desenvolve uma
política imperialista? Justifique sua resposta.
A eleição de Barack Obama representou uma
mudança no perfil da política externa dos Estados Unidos ao romper com os
preceitos da nova direita do Partido Republicano, defensora de ações
unilaterais e maniqueístas. Certas atitudes tomadas pelo governo – como a de
propor o fechamento da Base de Guantánamo, em Cuba, a defesa do direito ao
Estado palestino e a retirada progressiva das tropas estadunidenses no Iraque –
são exemplos contundentes dessas mudanças.
Na
seção.Você aprendeu? Leia o texto.
Em
30 de setembro de 2005, o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou 12
charges associando Maomé ao terrorismo. Em seguida, outros 50 jornais em todo o
mundo republicaram os desenhos. Não tardou para que fortes polêmicas e reações
eclodissem nas comunidades muçulmanas, adentrando o ano de 2006, causando, em
alguns casos, ofensivos ataques motivados pela indignação diante da forma
irônica como a cultura muçulmana e o profeta Maomé foram retratados. Em todo o
mundo, as principais agências de notícias publicaram os inúmeros efeitos que se
seguiram à larga divulgação daquelas imagens: a retirada dos embaixadores
saudita e sírio da Dinamarca, os boicotes por parte dos países islâmicos aos
produtos dinamarqueses, os protestos, incêndios e problemas diplomáticos em
países da Europa (como na Dinamarca, Suécia, Noruega e Áustria), como também de
outros continentes (como na Nova Zelândia, no Egito, na Indonésia, na Turquia e
na Tailândia). Em 13 de fevereiro de 2008, cinco grandes jornais dinamarqueses
voltaram a publicar as charges depois que foi descoberto um plano para
assassinar um de seus desenhistas; novamente, não faltaram reações em meio à
comunidade muçulmana espalhada pelo mundo.
(Elaborado por Sérgio Adas especialmente para o
São Paulo faz escola)
Com base no texto e na imagem:
a) Discorra sobre o contexto de surgimento
e o significado da expressão “choque de civilizações”.
A expressão “choque de civilizações”
adquiriu grande repercussão no contexto de incertezas da Nova Ordem Mundial,
logo após o fim da Guerra Fria (1947-1991), quando o mundo se deparou com a eclosão
de conflitos isolados, motivados por rivalidades étnico- religiosas e
culturais, contidos em sua maioria por regimes totalitários, como na ex-União
Soviética e na antiga Iugoslávia. Em particular, essa “chave” de interpretação
do novo quadro das relações internacionais emergente da implosão soviética adquiriu
grande notoriedade com a publicação da obra O choque de civilizações e a
recomposição da ordem mundial, do economista estadunidense Samuel P.
Huntington, em 1996. Defende-se nela que o futuro da humanidade poderá ser
determinado pelo confronto entre diferentes civilizações, com a adesão a
religiões e características culturais comuns.
b) Aponte, ao menos, duas críticas que são
dirigidas à teoria do “choque de civilizações”.
A teoria do “choque de civilizações”
possui limitações quando contraposta à realidade geopolítica mundial,
expressando uma visão reducionista diante das verdadeiras causas de muitos
conflitos em curso.
Por exemplo, outros especialistas não
concordam com a tese de Huntington (Edward Said, Noam Chomsky, John Esposito,
entre outros), pois vinculam os conflitos à imposição de um modelo geopolítico
e econômico controlado pelos países ricos e suas corporações (disputa por
recursos vitais, por exemplo, como o petróleo)